No início era brincadeira. Agora, continua sendo. Mas resolvi dar forma, verbo, conteúdo, consistência, massa, recheio, molhos, etc.
A gastronomia como grande brincadeira. Reunir os amigos, criar pratos inusitados. Prestar-se quase ao ridículo e a grande aventura de não comprar nada e inventar com o que tem na geladeira, freezer e naquele quartinho onde se guarda um pouco de tudo. E, ainda por cima, sair-se vitorioso com a gula alheia.
A comida antes de mais nada, deve ser sedutora: pelo aroma, sabor, cor, forma e textura.
Uma comida que não seduz, para mim não serve. É como se ouvir Nina Simone dentro de um McDonalds. Argh! Não combina, não harmoniza, enfim, não seduz.
Este blog é filho dileto do Veredas: Literatura e Psicanálise. Dele, herdou o nome, mas como eu disse que para mim a gastronomia é uma deliciosa brincadeira, por que não afrancesar o sertão verediano dando-lhe um sotaque internacional? Mas os puristas do nosso vernáculo poderiam opor-se com veemência clamando por uma nacionalização macunaímica. A estes respondo que pretendo sim fazer uma comida internacional (Sem pedantismos, não é Julian Barnes? "O pedante na cozinha", Julian Barnes, Rocco), pois não há fronteiras entre temperos. Entre sabores, sim. É preciso que fique bem demarcado cada sabor, que fique bem demarcado cada aroma para que se possa distinguir as texturas e a leveza da consistência.
E como hoje é domingo, primeiro dia da semana. Então, no início era o macarrão...
Primeira receita:
Linguine a Guimarães Rosa
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. J. G. Rosa
ingredientes
500g de linguine (grano duro)
5 tomates maduros
1 cebola grande (ou 2 médias)
1 lata de tomate pelado
manjericão fresco
80g de amêndoas (não use a salgada)
50 g de castanha de caju
4 bolinhas de mussarela de búfala
100g de ricota de búfala (se não encontrar pode ser queijo minas)
Sal
Azeite extra virgem (prefira sempre aqueles que possuam no máximo 0,5% de acidez. Para as saladas é fundamental que, além disso, sejam de 'primeira pressão', que é o primeiro azeite a ser feito).
Óleo de girassol ou Canola.
Modo de preparar
Num prato com uma camada bem fina de óleo de girassol, pique a cebola bem pequena. Deixe que com o tempo a cebola passe a gostar do óleo. No futuro eles se darão bem, você vai ver. Retire a pele do tomate (você pode espetá-los com um garfo e queimá-los diretamente no fogo. A pele logo se solta). Retire as sementes. Corte em pedaços grosseiros. O molho deve ser substancioso. Misture-os ao tomate pelado que também deve estar cortado. Sal a gosto e percorra-os com um fio de azeite.
Pique com as mãos (você percebe mais o aroma) as folhas de manjericão e misture ao tomate.
Com uma faca pequena a afiada, pique as amêndoas e a castanha de cajú. Você não deve moê-las. Com um pouco de paciência você poderá cortá-las em 3 ou 4 pedaços. (Faça sobre uma tábua de madeira que te dará mais firmeza).
Corte em pedaços a mussarela de búfala e o queijo. (Se você conseguir a ricota, tempere-a com azeite, orégano e uma pitada de flor de sal). Para o queijo minas, basta o azeite e o orégano.
Numa panela bem quente doure a cebola sem queimá-la. Imediatamente adicione o tomate, as outras folhas de manjericão (reserve um ramo para o enfeite final) e o queijo. De vez em quando mexa com uma colher de pau.
Não fique com vergonha. Se a consistência não estiver boa, abra uma lata de molho de tomate basílico (que leve manjericão) e acrescente ao molho. Há boas opções no mercado.
Quando o queijo estiver derretido e o tomate cozido (desmanchando), acrescente então as amêndoas e a castanha de cajú. Seu molho ficará deliciosamente crocante. Este é o segredo!
Para o macarrão, meu Deus, o básico sem mistérios: para os 500g, 2 litros e1/2 de água com sal e um fio de óleo. Ao ferver, coloque o linguine sem quebrá-lo até que ele fique al dente. Escorra sem lavá-lo. Se ele ainda estiver colado ou aderido, um truque: na própria panela em que foi fervido, coloque um colher de sopa de manteiga (se você vai fazer isto nada te impede de colocar umas folhas picadas de manjericão em um pouco de óregano junto da manteiga) e coloque novamente o macarrão e revire-o com um garfo para que ele se solte.
Com uma panela bonita você pode levar o molho e o macarrão separadamente para a mesa que não fará feio. Assim, cada pessoa coloca a quantidade de molho que lhe saltar aos olhos, ao aroma e ao paladar. Como esta receita já leva queijo, não é necessário o queijo ralado.
Sirva com um vinho tinto. Um malbec argentino ou um cabernet sauvignon de sua preferência.
No jantar este prato sempre harmoniza bem com Chet Baker e Nina Simone. No almoço sirva ao som de Tom Jobim e Chico Buarque. Não se esqueça de convidar mais quatro amigos. É o quanto rende esta porção.
Bom apetite!